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O QUE HOUVE COM A AMERICANAS?

Hoje (12) a ação da Americanas S.A. iniciou o dia no leilão de abertura do mercado caindo 75%, ao preço teórico de R$ 3,00 por ação. Até às 12h50 ainda não havia saído do leilão, nesse horário com preço teórico já de R$ 1,20, uma queda de 90% em relação ao último preço de ontem, R$ 12,00 por ação. O que aconteceu com a empresa de tão grave para a ação apresentar uma queda tão forte?

Ontem de tarde, após o fechamento do pregão, a Americanas S.A. divulgou fato relevante, comunicando “os acionistas e o mercado em geral que foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis redutores da conta fornecedores realizados em exercícios anteriores, incluindo o exercício de 2022. Numa análise preliminar, a área contábil da Companhia estima que os valores das inconsistências sejam da dimensão de R$ 20 bilhões na data-base de 30/09/2022.” Apenas para ter uma dimensão da relevância dessa inconsistência, a empresa tem um valor de mercado de R$ 10 bilhões, e um patrimônio líquido de R$ 14 bilhões. Então uma inconsistência na ordem de R$ 20 bilhões pode alterar e muito resultados anteriores, assim como projeções para o futuro.

Além disso, o mesmo fato relevante informa que o Diretor-Presidente Sergio Rial e o Diretor de Relações com Investidores André Covre decidiram sair da empresa imediatamente. Foi nomeado como Presidente interino João Guerra, executivo da empresa. Também será criado um comitê independente para apurar os eventos.

Apesar de ainda haver pouca informação, fica claro que é um acontecimento grave, que irá impactar fortemente os resultados e talvez até a operação da empresa daqui pra frente. Por conta disso o mercado reagiu com tanta velocidade força para vender as ações de AMER3. Além dos milhares de acionistas pessoas físicas, muitos fundos, como milhões de ações em custódia, vão agora se esforçar ao máximo para liquidar essas posições. Por outro lado, a falta de informação vale para os dois lados, e pode ser também uma oportunidade, caso a análise dos fatos indique que a queda está sendo maior do que deveria.

Esse tipo de acontecimento não é muito comum na Bolsa de Valores, uma vez que empresas listadas precisam passar por critérios rigorosos de controle, contabilidade e auditoria, e tem seus documentos financeiros e contábeis abertos para o público. O próprio mercado, com todos os investidores, analistas, gestores e outros players, avalia e inspeciona os números de cada balanço, de cada empresa, a cada trimestre, o que reduz bem riscos de inconsistências muito grandes passarem desapercebidos.

Porém, de vez em quando temos casos como o da IRBR3, a famosa IRB, que em 2020 foi acusada de fraude pela gestora Squadra, que divulgou cartas questionando os resultados da empresa justificando suas posições vendidas. Depois essas acusações se provaram verdadeiras, e a ação despencou ao longo de meses. Em janeiro de 2020 a ação chegou a bater R$ 34,00, e hoje é negociada a apenas R$ 1,15. Não conseguimos saber ainda se Americanas vai seguir o mesmo caminho, só o tempo dirá. Mas casos como esse são importantes para que sempre lembremos que o mercado de ações apresenta diversos riscos, inclusive o risco de erros, omissões, fraudes e outros problemas legais, que são raros mas quando acontecem podem impactar de maneira severa as ações.

Segue a íntegra do fato relevante divulgado ontem:

Americanas S.A.

CNPJ/ME nº 00.776.574/0006-60

NIRE 3330029074-5

FATO RELEVANTE

Americanas S.A. (“Americanas” ou “Companhia”), em atendimento ao disposto na Resolução CVM nº 44, de 23 de agosto de 2021, vem comunicar aos seus acionistas e ao mercado em geral que foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis redutores da conta fornecedores realizados em exercícios anteriores, incluindo o exercício de 2022. Numa análise preliminar, a área contábil da Companhia estima que os valores das inconsistências sejam da dimensão de R$ 20 bilhões na data-base de 30/09/2022. A Companhia estima que o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial. Neste momento, não é possível determinar todos os impactos de tais inconsistências na demonstração de resultado e no balanço patrimonial da Companhia. Entre as inconsistências mencionadas acima, a área contábil da Companhia identificou a existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem acima, nas quais a Companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta fornecedores nas demonstrações financeiras de 30/09/2022. As estimativas acima estão sujeitas a confirmações e ajustes decorrentes da conclusão de trabalhos de apuração e dos trabalhos a serem realizados pelos auditores independentes, após o que será possível determinar adequadamente todos os impactos que tais inconsistências terão nas demonstrações financeiras da Companhia. Diante desses fatos e consequente alteração de prioridades da administração, o Diretor Presidente Sergio Rial e o Diretor de Relações com Investidores André Covre, empossados em 2/1/2023, comunicaram sua decisão de não permanecer na Companhia, com efeito imediato. O Conselho de Administração nomeou interinamente para Diretor-Presidente e Diretor de Relações com Investidores o Sr. João Guerra, executivo com ampla trajetória na companhia nas áreas de tecnologia e recursos humanos, e não envolvido anteriormente na gestão contábil ou financeira. O Conselho de Administração decidiu, ainda, criar um comitê independente para apurar as circunstâncias que ocasionaram as referidas inconsistências contábeis, que terá os poderes necessários para a condução de seus trabalhos. Os acionistas de referência da Americanas, presentes no quadro acionário há mais de 40 anos, informaram ao Conselho de Administração que pretendem continuar suportando a Companhia, tendo o Sr. Sergio Rial como seu assessor nesse processo, prestando apoio na condução dos trabalhos. A Companhia manterá o mercado informado a respeito dos desdobramentos relevantes relacionados aos assuntos objeto deste Fato Relevante.

Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 2023

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