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O QUE É CRA?

Após três semanas falando sobre renda fixa, conseguimos explorar bem o assunto e podemos agora entrar nos detalhes sobre cada tipo de ativo disponível no mercado. No glossário de hoje o tema será CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio). Os CRAs são títulos privados emitidos por empresas não-bancárias, em que a garantia é a capacidade de pagamento da própria empresa emissora, há isenção de imposto de renda, possibilidade de receber renda recorrente e liquidez para eventual saída antecipada (com possibilidade de ágio). Além disso, por apresentar um risco maior que títulos públicos e bancários, costuma oferecer taxas mais gordas também.

Como explicado nos artigos de Renda Fixa (caso não tenha lido, clique aqui), existem os títulos públicos e os privados. Entre os privados, há os bancários e os corporativos. E dentre os corporativos, temos, entre outros, Debêntures, CRIs e CRAs. Os CRAs – Certificados de Recebíveis do Agronegócio – financiam atividades do setor agropecuário (como o próprio nome já diz). Eles têm como característica a emissão somente por companhias securitizadoras de direitos creditórios, que não são as devedoras na operação.

Na prática, uma empresa que exerce atividades ligadas ao agro que precisa de financiamento -seja para financiar um projeto, antecipar pagamentos a prazo ou outras finalidades – emite direitos creditórios. Uma securitizadora vai adquirir e empacotar esses direitos em um CRA, que será distribuído no mercado. O lastro do CRA, ou seja, o valor que garante a operação, tem de ter no mínimo o tamanho e prazo da emissão, o que garante mais segurança em caso de não pagamento.

O grande atrativo de um CRA é o fato de ser isento de imposto de renda e IOF. Isso ocorre porque o legislador brasileiro entendeu que fazia sentido incentivar certas atividades (setores do agronegócio, imobiliário e de infraestrutura) e o faz através de benefícios tributários. Assim, as empresas conseguem se financiar de forma mais barata, sem precisar pagar juros tão altos quanto o resto da economia. Para os investidores, muitas vezes isso significa uma rentabilidade muito interessante, pois o imposto de renda para produtos de renda fixa é no mínimo 15%.

Outro atrativo são as taxas de juros, que costumam ser mais altas que as de títulos bancários e públicos. Isso acontece porque os títulos públicos e bancários tem um risco muito baixo, por serem garantidos pelo Tesouro Nacional e pelo FGC, respectivamente. Já os CRAs (e títulos corporativos em geral) são garantidos apenas pela própria empresa devedora e esse risco adicional é compensado também se pagando uma remuneração melhor aos investidores.

Os CRAs possuem vencimentos variados, desde poucos anos, até mais de uma década. Não são ativos de alta liquidez, para serem usados como reserva de curto prazo, mas possuem uma liquidez razoável por existir um mercado secundário já maduro para crédito privado e que cresce a cada ano, provendo cada vez mais liquidez. Essa venda antecipada no mercado secundário vai depender das condições de mercado para definição do preço de saída, que pode gerar lucro ou prejuízo para o investidor.

Os títulos podem ter pagamento no formato bullet – principal mais juros pagos no vencimento – ou com juros periódicos. No segundo caso, os juros costumam ser mensais, semestrais ou anuais e a própria amortização muitas vezes começa a ser paga anos antes do vencimento, semelhante a um financiamento ao contrário (como se a empresa fosse o cliente e o investidor o banco). Juros periódicos são uma ótima alternativa de renda passiva para investidores que querem ter um fluxo de rendimentos em sua carteira, porém é sempre importante ter em mente o risco de reinvestimento, que nada mais é do que a chance de não conseguir reinvestir os rendimentos à mesma taxa que a contratada ao comprar o título.

Esses são os principais aspectos dos CRAs, um tipo de ativo que compõe bem uma carteira de renda fixa e pode aumentar a rentabilidade total e até a liquidez, sem elevar na mesma proporção o risco total. Na semana que vem, traremos um guia prático de como investir em CRAs e quais características se atentar na prática para obter os melhores resultados.

Esse texto foi publicado pelo blog CDI – Conselho dos Investidores. Caso tenha interesse em aprender mais sobre investimentos, falar sobre o mercado e investir melhor, entre em contato com a gente através do nosso Instagram @conselhodosinvestidores, ou pelo nosso site.

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