Na próxima quarta-feira, 1º de fevereiro, como ocorre a cada quatro anos, se iniciam as novas legislaturas da Câmara e do Senado Federais. Os deputados e senadores eleitos em outubro tomarão posse, e tem como primeira atividade definir os presidentes de suas respectivas casas. Essas eleições acontecerão já na quarta-feira, e o pleito na Câmara parece já estar decidido, com Arthur Lira (PP) quase como candidato único. Já no Senado, a disputa está mais parelha, e o favorito Rodrigo Pacheco (PSD), apoiado pelo governo Lula, começa a ser ameaçado por Rogério Marinho (PL), representante da oposição.
Na Câmara, a disputa está encaminhada. O atual presidente Arthur Lira busca sua reeleição, e para isso tomou medidas nos últimos meses que aumentaram sua popularidade entre os deputados. Distribuiu mais de 260 cargos para partidos aliados, e aumentou o auxílio moradia dos deputados de R$ 1.747 para R$ 4.148. Lira já contava com um apoio forte na Câmara desde 2021, quando venceu Baleia Rossi (MDB) por 302 votos a 145, e só aumentou sua influência sobre os deputados nos dois anos seguintes, principalmente por meio da distribuição das emendas de relator, o famoso Orçamento Secreto. Agora, mais forte do que nunca, calcula-se que terá mais de 400 votos, dos 513 possíveis (são necessários 257 para vencer).
A única candidatura concorrente é a de Chico Alencar (PSOL), mas o próprio admite que é para “marcar posição”, pois sabe que não tem chances reais de ganhar. Os partidos que apoiam Lira somam 496 deputados, enquanto os que apoiam Alencar somam apenas 17. O governo Lula decidiu não interferir na eleição da Câmara, pois percebeu que não teria força para vencer Lira, e precisava de sua boa vontade ainda no fim do ano passado para aprovar a PEC da Transição. Assim, a não ser que aconteça um terremoto em Brasília nos próximos dois dias, a eleição de Lira está mais do que assegurada. Lira foi um aliado importante do ex-presidente Jair Bolsonaro nesses último dois anos, e, apesar de representar um grupo grande e heterogêneo de deputados, boa parte de sua base tem posições mais conservadoras e à direita, o que pode dificultar a vida de Lula em determinados temas.
Já no Senado, a história é outra. O presidente Rodrigo Pacheco também busca sua reeleição. Precisando de 41 votos do total de 81 senadores, Pacheco é o favorito e estima-se que já tenha cerca de 40 votos. Porém, nos últimos dias, a candidatura de Rogério Marinho tem crescido, e o senador conta com cerca de 23 votos. Além dos dois, há uma terceira candidatura, de Eduardo Girão (PODEMOS), que corre por fora. Se nenhum dos candidatos obtiver os 41 votos no primeiro turno, é realizado um segundo turno com os dois mais votados.
Pacheco teve uma postura mais equilibrada durante o governo Bolsonaro, mostrando mais independência em relação ao governo, mas sem entrar em grandes embates. Teve uma postura correta em temas polêmicos como a pandemia, os atos antidemocráticos e a própria eleição, quando dos questionamentos das urnas, por exemplo. Agora, buscando a reeleição, buscou o apoio do governo, tanto que é o candidato declarado de Lula. Como foi eleita uma bancada grande de direita, em sua maior parte bolsonarista, essa oposição decidiu se organizar para lançar uma candidatura que fosse menos amigável ao governo. O senador Rogério Marinho foi o escolhido. Marinho é ex-ministro e aliado de Bolsonaro, mas também teve papel importante no governo Temer, quando foi relator da reforma trabalhista de 2017.
Uma vez que na Câmara a votação já é previsível, os olhos estão todos voltados para o Senado. A eleição de Pacheco significaria uma chance maior de harmonia entre o legislativo e o executivo, inclusive mais diálogo e possibilidade de passar projetos de interesse do governo. Assim como fez no governo anterior, Pacheco tem um perfil independente, mas tende muito mais a ter uma postura permissiva em relação aos projetos do governo do que uma mais combativa. Sua eleição aumentaria a chance de o governo Lula avançar com seus projetos mais controversos, e enfraqueceria ainda mais o bolsonarismo, que nesse momento está se empenhando na vitória de Rogério Marinho.
Já Marinho, apesar de ser aliado de Bolsonaro, e, portanto, contar com o apoio de toda esta ala, é reconhecido como um parlamentar moderado, com bom diálogo e muito inteligente, de modo que pode agregar um grupo muito mais abrangente que só o bolsonarismo, grupo esse que pode ser o início de uma frente de oposição de verdade ao governo petista. Se Marinho for eleito, a vida do governo Lula deverá ser mais difícil. Além da pauta de costumes, que tende a ser rejeitada pela ala mais à direta do Senado, o ex-deputado que foi relator e grande defensor da reforma trabalhista dificilmente vai aceitar retrocessos nesse e em outros assuntos econômicos.
Esse texto foi publicado pelo blog CDI – Conselho dos Investidores. Caso tenha interesse em aprender mais sobre investimentos, falar sobre o mercado e investir melhor, entre em contato com a gente através do nosso Instagram @conselhodosinvestidores, ou pelo nosso site.