O presidente Lula, nesta segunda-feira (6), criticou mais uma vez a atuação do Banco Central na condução da política monetária. Como havia feito na semana passada, e em mais alguns episódios anteriores, questionou o patamar de 13,75% da Selic, dizendo que não há justificativa para que a taxa de juros esteja nesse patamar.
As falas foram feitas durante a posse de Aloizio Mercadante como novo presidente do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. De acordo com o presidente da república, “Não existe nenhuma justificativa, nenhuma justificativa, para que a taxa de juros esteja, neste momento, a 13,5%. É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira”.
Lula, assim como outros integrantes do governo e do Partido dos Trabalhadores, não compreende como se dá o fenômeno da inflação. O aumento generalizado dos preços tem um componente das condições atuais, claro, mas também de expectativas futuras. Em outras palavras, as mensagens e sinalizações que o governo passa são tão ou até mais importantes que as políticas fiscais e monetárias de fato realizadas. Assim, ao dizer que os juros deveriam estar mais baixos, ou ao criticar a autonomia do BC (o que também já fez recentemente), ele cria expectativas de inflação, que vão gerar inflação nos próximos meses, e fazer com que a taxa de juros necessária para contê-la seja ainda mais alta.
Da mesma forma, o Copom, ao fazer uma carta considerada dura, no sentido de não ser condescendente com a inflação, e dizer que os juros podem se manter mais elevados por mais tempo, pode fazer com que as expectativas de inflação caiam, o que fará com que a inflação futura caia, e na prática os juros possam cair antes também.
Lula também diz: “Se a classe empresarial não se manifestar, se as pessoas acharem que vocês estão felizes com 13,5%, sinceramente, eles não vão baixar juros, e nós precisamos ter noção. E não é o Lula que vai brigar, não. Quem tem que brigar é a sociedade brasileira”. Ou seja, o presidente acha que o nível dos juros é uma simples negociação entre o que ele chama de classe empresarial e o Banco Central, representado pela talvez classe financeira (?). Na verdade, os juros de longo prazo, que são o que importa, são determinados pelo mercado, enquanto o Banco Central define apenas a Selic. E mesmo essa taxa, se reduzida de maneira inadequada, pode gerar resultados catastróficos, como aconteceu na crise de 2015-2016. Uma inflação alta requer um juro alto para abaixar, e essa é um dado da realidade, que não será alterada pelo discurso demagogo (ou talvez apenas ignorante) do presidente.
Outro comentário de Lula: “Se eu que fui eleito não puder falar, quem eu vou querer que fale? O catador de material reciclável? Quem eu vou querer que fale por mim? Não. Eu tenho que falar, porque, quando eu era presidente, eu era cobrado”. É claro que o presidente pode falar, se assim achar que deve. O ponto é que não parece inteligente, uma vez que a percepção de que o governo pode tentar influenciar na decisão da Selic em si causará mais inflação, pelos mecanismos já descritos acima. Portanto, é um tiro no pé que o presidente dá.
A fala de Gilberto Kassab, presidente do PSD e um dos caciques partidários mais poderosos da política nacional, hoje em reportagem do Poder360 resume bem os erros que o presidente da república insiste em cometer, ainda que os comentários não tenham sido sobre as falas de hoje. Sobre a autonomia do BC, disse: “Eu sou a favor. Também não me preocupa o Lula ter manifestações discordando. O que ele não pode, abruptamente, é mudar algo que está implantado no país. Ele tem que tomar muito cuidado. Ele tem o direito de emitir qualquer opinião. Mas não seria inteligente da parte dele fazer de uma maneira pouco pensada manifestações que afastem o mercado e o investidor. A vítima será ele.” Já sobre a meta de inflação, disse: “Eu aprendi nesses anos de vida pública que um presidente da República e um ministro da Fazenda ou da Economia, se ele puder evitar se manifestar em relação à inflação e em relação a juros, já é uma grande colaboração. Só o fato de um ministro ou presidente falar de inflação, é porque ele acha ou tem informação de que vai crescer. Aí cresce, todo mundo aumenta preço e cresce. Então, a maior colaboração que um presidente pode dar –e não estou mandando ele calar a boca, é como estratégia econômica– é não se manifestar sobre esses temas. Qualquer manifestação equivocada gera inflação ou mais inflação, juros altos e, consequentemente, desemprego.”
Esse texto foi publicado pelo blog CDI – Conselho dos Investidores. Caso tenha interesse em aprender mais sobre investimentos, falar sobre o mercado, e investir melhor, entre em contato com a gente através do nosso Instagram @conselhodosinvestidores, ou pelo nosso site.