Dando prosseguimento a novela Americanas, que já tem mais de dois meses, entramos agora em um novo capítulo. Ontem (20), a empresa entregou o seu plano de recuperação judicial, que inclui aporte de R$ 10 bilhões de acionistas, além da venda de ativos, leilões e conversão de dívidas em ações. No mesmo documento, estão as condições a serem negociadas com credores fornecedores.
Apenas relembrando a linha do tempo dos acontecimentos, o caso se iniciou em 11 de janeiro, quando a Americanas relatou possíveis inconsistências contábeis no valor de R$ 20 bilhões. As ações passaram a cair muito, assim como os títulos de dívida emitidos pela empresa, ao mesmo tempo em que credores começaram a divulgar seus passivos com a empresa, e se iniciou uma guerra jurídica. A Americanas conseguiu proteção contra execução antecipada das dívidas, e entrou com pedido de recuperação judicial, enquanto o tamanho do rombo apurado cresceu para R$ 40 bilhões.
O aporte de R$ 10 bilhões será feito pelos três principais acionistas: Jorge Paulo Lehmann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira. Na venda dos bens, entram um avião avaliado em R$ 40 milhões, e negócios como o Hortifruti Natural da Terra e as lojas Imaginarium. Até R$ 2 bilhões que serão obtidos com a venda de bens serão utilizados para reduzir a dívida. Também é proposto uma emissão de debêntures simples, no valor de até R$ 5,9 bilhões, além de debêntures conversíveis em ações.
Em relação à negociação com os credores fornecedores, o documento apresenta três opções. A primeira é para o chamado fornecedor prioritário, com dívida de até R$ 12 mil, ou aqueles com dívida superior a esse valor, mas que aceitem os R$ 12 mil como quitação integral da dívida. Esse grupo, que se estima conter 3 mil credores, e valores a receber de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões, será pago em até 30 dias após a homologação do plano, contanto que aceitem essa condição em até 30 dias a partir de ontem (20/03).
A segunda opção é para o credor colaborador, que são os que tem os maiores valores a receber. Para esse grupo, em geral grandes indústrias, é necessário que mantenham as condições comerciais negociadas em 2022, como preço e quantidade. Esse grupo contempla empresas como Samsung, Apple e Nestlé, valores a receber na casa dos bilhões, e a proposta é de pagamento em parcela única, sem desconto, em até 360 dias da homologação do plano ou a capitalização dos R$ 10 bilhões, contanto que aceitem essa condição em até 30 dias a partir de ontem (20/03). O credor colaborador também precisa liberar linhas de crédito que serão atualizadas enquanto as Americanas vão pagando a dívida.
A última opção é para os credores que não se enquadram nas duas primeiras. Quem escolher essa opção, sofrerá um deságio de 50% na dívida, e o valor será pago em 48 vezes. Claramente essa é a pior opção, e foi desenhada para que os credores escolham uma das outras duas.
Com a apresentação do plano recuperação judicial, começa a se desenhar uma possível solução para o caso. Se der certo, a empresa continua existindo, sem precisar acabar com milhares de empregos e continua sendo uma das opções de varejo para os consumidores brasileiros. Do outro lado, credores de maneira geral podem receber parte do prejuízo que tomariam caso a empresa fechasse as portas hoje, e os negócios continuam gerando empregos, renda e arrecadação para o governo.
Porém, não há o que comemorar. A verdade é que o rombo foi muito grande, e pelo plano apresentado, muitos dos credores serão fortemente prejudicados, e boa parte pode não resistir inclusive, sem contar os acionistas que foram lesados de maneira irreversível, tendo seu patrimônio dilacerado. E, independente da recuperação judicial, é importante que as investigações continuem para que se posso responsabilizar os culpados por essa crise.
Esse texto foi publicado pelo blog CDI – Conselho dos Investidores. Caso tenha interesse em aprender mais sobre investimentos, falar sobre o mercado, e investir melhor, entre em contato com a gente através do nosso Instagram @conselhodosinvestidores, ou pelo nosso site.