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COMO FOI A SUPER QUARTA

Ontem tivemos a chamada super quarta, que ocorre quando as reuniões do FOMC (comitê de política monetária do Fed, o Banco Central dos EUA) e do COPOM (comitê de política monetária do Banco Central do Brasil) coincidem. Isso ocorre com alguma frequência, já que as reuniões de ambas as instituições ocorrem em média a cada 45 dias, com resultado divulgado sempre numa quarta-feira. Para o mercado, é um evento bem aguardado, pois a definição da política monetária afeta diretamente o preço de moedas, ações, e praticamente todos os ativos financeiros.

O FOMC divulgou o resultado da reunião primeiro, as 15h, e decidiu aumentar os juros em 0,25%, que passaram do intervalo de 4,75% a 5% para 5% a 5,25%, já que o Fed trabalha com uma banda, e não com um valor pontual, como o BC do Brasil. Foi a décima alta seguida, e esse é o maior patamar desde 2006. A inflação nos EUA está em 5% no acumulado de 12 meses até março, menor nível desde maio de 2021. Ela chegou a bater 9,1% em junho de 2022, e desde então vem caindo. Porém, ainda está muito distante da meta, que é de 2% ao ano.

Por conta disso, em sua fala após a divulgação da decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que não descarta novos aumentos caso novos dados indiquem essa necessidade, mas o comunicado do Fed não fez menção a uma nova elevação na próxima reunião, o que pode indicar um possível fim do ciclo de alta nos juros. Powell comentou que apesar de terem subido muito os juros nos últimos meses, o desemprego nos EUA continua extremamente baixo, o que pressiona os preços, e impede uma queda mais acentuada da inflação.

Já no Brasil, tivemos a divulgação da decisão do COPOM um pouco mais tarde, após o fechamento do mercado. O BC decidiu pela manutenção da taxa de juros em 13,75%, sendo a sexta vez seguida que a taxa não muda. A inflação acumulada em 12 meses até março é de 4,65%, a menor desde janeiro de 2021. Entretanto, o IPCA projetado para 2023 está em 6,05%, e para 2024 em 4,18%, e a meta para este ano é de 3,25%, e do ano que vem, 3%. Por isso, o BC mantém os juros elevados, até que consiga projetar uma convergência da inflação para a meta.

No comunicado, o comitê ressalta que poderá retomar o ciclo de altas caso necessário, mas reconhece que esse cenário é menos provável que na última reunião. Também expressa que a apresentação do novo arcabouço fiscal reduziu incertezas sobre a política fiscal, mas ponderou que a aprovação da nova lei não leva automaticamente à convergência da inflação.

Apesar da ânsia do mercado em descobrir de antemão quando os juros param de subir (no caso dos EUA) ou começam a cair (no caso do Brasil), mais importante que adivinhar isso é entender a dinâmica dos ajustes. A inflação continua alta em ambos os países, apesar de estar caindo muito gradualmente ao longo dos últimos meses, mas distante ainda das metas. A grande diferença é que nos EUA a atividade ainda está aquecida, com o país crescendo e o mercado de trabalho forte. No Brasil, o crescimento esperado do PIB para 2023 é de apenas 1%, e o desemprego, apesar de vir caindo, ainda está em patamares elevados.

Ao que tudo indica, ainda não estamos no momento de virado do ciclo de juros, mas parece estar próximo. Se os dados de inflação dos meses seguintes vierem positivos, é razoável esperar que BC, que começou a subida de juros antes dos Fed, em breve comece a considerar um início de ciclo de cortes, ainda que para um período mais à frente.

Esse texto foi publicado pelo blog CDI – Conselho dos Investidores. Caso tenha interesse em aprender mais sobre investimentos, falar sobre o mercado, e investir melhor, entre em contato com a gente através do nosso Instagram @conselhodosinvestidores, ou pelo nosso site.

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