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BC VAI CORTAR OS JUROS?

Desde o início do ano, o presidente Lula e outros integrantes do governo e do partido dos trabalhadores vem pressionando publicamente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a reduzir a taxa básica de juros. Em diversos discursos o presidente questionou o nível dos juros, criticou a autonomia do Banco Central, falou sobre alteração das metas de inflação, e desmereceu o próprio Roberto Campos.

Para o governo, que precisa entregar crescimento econômico para manter alguma popularidade e continuar competitivo eleitoralmente, ainda mais depois das promessas feitas na campanha presidencial do ano passado, baixar os juros o quanto antes é essencial, pois estimula a atividade, aquecendo a economia. Também pode acelerar a inflação, mas historicamente os políticos petistas são lenientes com o aumento dos preços, e estão sempre mais do que dispostos a conviver com mais inflação caso tenham também mais crescimento.

O Banco Central, por sua vez, tem mantido a mesma posição desde o fim do ciclo de alta, ainda em 2022, de que os juros devem permanecer altos até que a inflação dos próximos anos convirja para a meta no modelo de previsão. Roberto Campos, porém, chegou a indicar que está aberto a discutir uma alteração na meta de inflação. O governo defende um aumento na meta, o que teria como efeito a antecipação do início dos cortes de juros.

Todos esses atritos já vêm ocorrendo desde que Lula assumiu, e independente da discussão de se o presidente deve ou não interferir na política de juros durante (os que defendem a lei que vigora atualmente de autonomia do BC acreditam que não), fato é que esse assunto tem sido mais debatido no mercado. Seja pela pressão exercida pelo governo, seja porque as empresas têm dado sinais de que o patamar atual de juros pode levar a uma quebradeira generalizada, principalmente das companhias que estão altamente endividadas e possuem margens apertadas.

O ex-diretor do BC, Tony Volpon, defende que o Banco Central agiu corretamente até agora, mas que um fato novo como o caso Americanas, que poderia desencadear uma quebradeira generalizada, pode mudar o cenário. O liquidez no mercado de crédito diminui quando ocorre um evento como esse, e uma redução na concessão de crédito significa arrefecimento da atividade, e portanto redução da inflação futura. Portanto, poderia haver espaço para acelerar o início dos cortes de juros. Se isso ocorrer, os primeiros cortes poderiam ocorrer ainda no primeiro semestre.

Independente do que decidir o Banco Central, é importante que a política definida seja bem embasada, para que não se perca a credibilidade construída em torno da política monetária nos últimos anos. O nível de atividade, emprego e custo do crédito são sim muito importantes, mas o Banco Central não pode de maneira nenhuma esquecer ou transparecer que esqueceu que a principal função da política de juros é o controle da inflação.

Esse texto foi publicado pelo blog CDI – Conselho dos Investidores. Caso tenha interesse em aprender mais sobre investimentos, falar sobre o mercado, e investir melhor, entre em contato com a gente através do nosso Instagram @conselhodosinvestidores, ou pelo nosso site.

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