Investir é em grande medida uma atividade psicológica. Claro que para escolher bons ativos e ter sucesso repetidas vezes e ao longo dos anos, um investidor precisa ter conhecimento técnico, estudar muito e acompanhar o desenrolar do mercado. Porém, isso de nada adianta se ele não tiver estômago para internalizar variações importantes no seu patrimônio, porque momentos de crise acontecem, e sacar o dinheiro na baixa é garantia de perda.
A necessidade de saber lidar com a volatilidade de preços é uma característica fundamental para qualquer pessoa que deseja investir seu dinheiro em qualquer ativo que não seja a poupança ou um fundo de reserva de emergência. Todos os ativos têm algum nível de risco, e podem apresentar volatilidade de preços. Na prática, porém, os investidores, principalmente os iniciantes, tendem a acreditar que possuem uma tolerância a risco maior do que fato possuem. Assim, em mercados de alta, acabam colocando uma parcela maior de seu patrimônio em renda variável do que deveriam, e na hora da baixa, não conseguem lidar com a perda momentânea e sacam o dinheiro.
Em estudo recente da gestora Alaska, esse problema foi mais uma vez evidenciado. De acordo com o levantamento, dos 145 mil cotistas que já resgataram recursos do fundo Alaska Black Institucional FIA, 39 mil saíram com prejuízo, o que representa 27% dos resgates. Porém, também desde o início, o fundo tem um retorno total 161,8%, inclusive bem acima do Ibovespa, com 47,54%, e teve como único ano completo com retorno negativo 2020, quando registrou queda de 4,5%. Assim, o que explica tanta gente saindo no prejuízo?
Para quem participa do dia a dia do mercado, a resposta não é nenhum mistério. Nos períodos de bonança, quando os fundos estão entregando rentabilidades muito acima do mercado, quase não há resgates, pelo contrário, o grande fluxo é de entrada de dinheiro nos fundos, aumentando o passivo e o número de cotistas. Por outro lado, após uma queda importante, o movimento contrário acontece, e o fundo perde um grande número de cotistas.
Para não cair nessa armadilha, é importante entender o motivo pelo qual decidimos ou não investir em um fundo. E aqui eu faço o recorte para fundos de ações, onde é ainda mais comum esse tipo de erro. A performance do fundo deve ser avaliada não apenas pelo resultado nos últimos meses. É importante avaliar fatores objetivos como diversas janelas (como 12, 24 e 48 meses), retorno desde o início, maiores quedas, volatilidade média, retorno ajustado ao risco. Também são importantes critérios qualitativos, como qualidade e senioridade dos profissionais da gestora, estratégia de investimentos e gestão de risco do fundo.
Assim, é possível diferenciar fundos que são bem geridos e estão passando por quedas momentâneas (que nos fundos de ações são muito comuns), dos que apenas não são bem tocados. Se o investidor analisar os fundos com cuidado, e escolher pelos critérios acima, a chance de sucesso aumenta muito. Porém, tão importante quanto, será respeitar seu nível de propensão ao risco. Não custa repetir, não adianta tomar um nível de risco maior do que o que você aguenta, pois no pior momento você irá jogar a toalha, e assumir um prejuízo que muitas vezes seria revertido.
Esse texto foi publicado pelo blog CDI – Conselho dos Investidores. Caso tenha interesse em aprender mais sobre investimentos, falar sobre o mercado, e investir melhor, entre em contato com a gente através do nosso Instagram @conselhodosinvestidores, ou pelo nosso site.