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HISTÓRIA RECENTE DA SELIC

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), decidiu ontem, quarta-feira (1), manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. Essa é a quarta vez consecutiva que o Copom não altera a taxa de juros, nas reuniões que ocorrem a cada 45 dias. O ciclo atual de alta começou em 17 de março de 2022, quando a taxa Selic estava em sua mínima histórica, no valor de 2% ao ano. Vamos retomar os ciclos de juros que vivemos nos últimos 10 anos, para entender o que nos trouxe até o cenário de juros que observamos hoje, e o que podemos esperar para o futuro.

O patamar atual dos juros é o maior desde novembro de 2016, quando a taxa estava em 14% ao ano. Naquele momento, o Brasil passava por uma estagflação pesada, que é uma combinação de baixo crescimento do PIB com inflação alta. Durante essa crise de 2015 e 2016, período no qual o Brasil teve a pior recessão de sua história (-3,6% e -3,8%, respectivamente para cada ano), a inflação chegou a 10,67% no ano de 2015, e os juros ficaram no patamar de 14,25% por mais de um ano.

A crise foi gerada pelo fim do boom da commodities, que proporcionou grande crescimento econômico na década de 2000, somado a decisões equivocadas do governo petista, como grande intervenção governamental na economia, gastos desenfreados, redução dos juros mesmo sem fundamentos macroeconômicos que a justificassem, concessões de subsídios e intervenção em preços, favorecimento de empresas amigas do governo (chamadas de campeões nacionais), além da corrupção sistêmica que depois foi revelada.

Com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, assumiu o governo o vice Michel Temer, que reorganizou a economia colocando Ilan Goldfajn no comando do Banco Central e Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda, fazendo ajuste de gastos e propondo e aprovando reformas micro e macroeconômicas no Congresso (destaque para reforma trabalhista e teto de gastos). Com esses ajustes e correções, a inflação recuou, o País voltou a crescer e gerar empregos (ainda que bem lentamente), o que possibilitou o início da queda dos juros. Esse ciclo de cortes teve duas fases. A primeira levou a Selic dos 14,25% no fim de 2016 para 6,5% em março de 2018, patamar que durou até junho de 2019, quando uma nova sequência de cortes se iniciou e levou a Selic até os 2%, menor valor da série histórica.

Durante os anos mais graves da pandemia, o mundo todo se fechou, e a demanda de praticamente todos os produtos e serviços caiu fortemente. Para evitar uma recessão ainda maior, os governos ao redor do mundo decidiram distribuir dinheiro e cortar juros para estimular a economia, ainda que de maneira artificial. Porém, no fim de 2021, a inflação do ano foi de 10,06%, e acelerando, o que levou o Banco Central a iniciar um novo ciclo de alta nos juros, o que levou novamente a Selic para 13,75%.

O patamar de 2% sempre foi reconhecido por todo o mercado como excepcional, e sabia-se que a taxa de juros de equilíbrio (valor em que os juros podem se manter no longo prazo sem gerar inflação demais ou crescimento de menos) era maior que isso. Porém, as decisões equivocadas do governo Jair Bolsonaro nos dois últimos anos de governo fizeram com que os juros subissem muito mais que o necessário.

No início do mandato, o governo seguiu uma linha mais fiscalista e reformista, aprovando a reforma da previdência, marco do saneamento e autonomia do BC, por exemplo. Mas a partir de 2021 o governo decidiu seguir uma linha mais populista visando a reeleição, e passou a gastar muito, principalmente distribuindo cada vez mais dinheiro para obter mais votos e apoio político do parlamento. Essa farra fiscal fez com que a taxa Selic, que muitos acreditam poderia ter parado em um patamar abaixo dos 10%, fosse até os 13,75% atuais. Além do valor que chegou, o tempo necessário para poder iniciar um novo ciclo de cortes aumenta quando o governo não faz a lição de casa.

Com o novo governo Lula, e com o que se tem de informação até agora, as perspectivas não são as melhores para quem deseja uma queda nos juros em breve. As previsões para isso estão cada vez mais distante, já que o governo dá sinais de que haverá aumento de gastos e impostos, há questionamentos da autonomia do BC, fim ou redução de privatizações e concessões, além de poucas reformas estruturantes. A política monetária serve para ajustar a inflação a partir do controle dos juros, mas esse mecanismo funciona bem apenas se do lado fiscal, o governo faz sua parte também. Um descontrole dos gastos muito grande e duradouro não será contido por taxa de juros nenhuma, e resultará em colapso, como temos observado atualmente na Argentina, e como já vimos inúmeras vezes em nossa própria história.

Esse texto foi publicado pelo blog CDI – Conselho dos Investidores. Caso tenha interesse em aprender mais sobre investimentos, falar sobre o mercado, e investir melhor, entre em contato com a gente através do nosso instagram @conselhodosinvestidores, ou pelo nosso site.

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