Na semana passada tivemos a maior falência de um banco americano em mais de uma década. O Silicon Valley Bank (SVB), banco conhecido por financiar startups, teve suas atividades encerradas por autoridades americanas na sexta-feira (10). Na quinta-feira, o banco Silvergate, que tinha operações ligadas a criptoativos, já havia comunicado também o fim de suas operações. Por fim, durante o fim de semana o Signature Bank também colapsou. Pra quem viveu a crise financeira de 2008, é difícil ver esses acontecimentos e não pensar na possibilidade de um problema semelhante. Mas será que existe mesmo esse risco?
A preocupação não é com os bancos que faliram. As instituições que encerraram suas operações até agora são relevantes, porém o mercado bancário americano continua funcionando normalmente sem elas. O risco está em uma contaminação, ou seja, que um desses eventos de falência de um banco menor cause um efeito em cascata e uma quebradeira generalizada.
Ainda durante o fim de semana, o FED, junto com o Tesouro Americano e o FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), garantiram que os clientes do SVB terão acesso ao capital depositado em sua integralidade. Além disso, o FED fornecerá financiamento adicional às instituições por meio do novo Programa de Financiamento a Prazo do Banco (BTFP). A decisão vem para acalmar os mercados e evitar uma crise de confiança que leve a uma corrida aos bancos.
Hoje os rendimentos dos títulos do tesouro americano despencaram. No início da tarde, o Treasury de 10 anos caia 3,47%, e o de 2 anos, 4,15%. Isso acontece porque com as dificuldades enfrentadas pelos bancos, em grande medida pelo aumento dos juros, o mercado entende que será mais difícil um novo aumento dos pelo FED na próxima reunião, o que causa uma reprecificação dos títulos já em circulação. No mercado acionário, as ações do setor bancário estão sendo bem penalizadas, principalmente os bancos regionais, que inclusive tiveram a negociação interrompida durante a manhã de hoje. Os papéis do First Republic Bank chegaram a cair 70%.
Por enquanto, nada indica que as falências até agora levem à uma crise sistêmica. Os juros mais altos, sim, fazem com que empresas muito alavancadas e com margens baixas venham a falência, já que o custo da dívida pode se tornar grande demais para manter a operação rodando. Por conta disso, bancos que não tem boa qualidade de crédito, que tomam muito risco e não possuem reservas robustas, estão sujeitos a quebrar neste cenário. A dúvida nesse momento é se o fenômeno visto até agora é apenas pontual para algumas instituições, ou se existe um problema generalizado.
Em 2008, o problema estava no fato de que a qualidade do crédito, principalmente ligada ao setor imobiliário, era muito precária. Diversos bancos, inclusive os grandes, negociavam títulos e dívidas que tinham um risco altíssimo de calote, e quando isso foi evidenciado, a crise gerada foi ampla. Agora, o aumento dos juros demonstra que algumas instituições estavam operando de maneira pouco eficiente ou então muito arriscada, mas não necessariamente o setor como um todo sofre desse mal.
De qualquer maneira, um sinal amarelo foi aceso, e aumenta a pressão para que o FED não aumente mais os juros. Em paralelo, os mercados ficarão muito atentos às notícias nos próximos dias e semanas, caso mais instituições tenham problemas. No Brasil, ainda não temos nenhum sinal de impacto no mercado bancário, mas os juros altos por aqui também tem feito algumas vítimas em setores como o varejo.
Esse texto foi publicado pelo blog CDI – Conselho dos Investidores. Caso tenha interesse em aprender mais sobre investimentos, falar sobre o mercado, e investir melhor, entre em contato com a gente através do nosso Instagram @conselhodosinvestidores, ou pelo nosso site.