Agora que já explicamos os conceitos de CDI, SELIC, IPCA e JUROS, temos a base agora para entrar um pouco mais nos tipos de investimento em si. Vamos começar pela renda fixa, que abrange grande parte da carteira dos investidores em qualquer lugar do mundo, mas principalmente no Brasil. Você entende como a renda fixa funciona, e quais os indexadores existentes? E sabe por que no Brasil o descontrole inflacionário faz com que a renda fixa tenha sido um ótimo investimento historicamente falando?
No mundo dos investimentos, podemos classificar os ativos passíveis de se investir em dois grandes grupos, a renda fixa e a renda variável. Depois, eles podem ser subdivididos em muitos grupos menores, mas todos sempre podem ser colocados em uma dessas duas caixinhas. Para mim, a definição mais simples de renda fixa é: uma operação de empréstimo de dinheiro entre duas partes. Tudo o que não se encaixa nessa definição é renda variável. A princípio parecem conceitos um pouco amplos, mas ficará mais claro quando formos explicando cada tipo de ativo.
Sendo a renda fixa uma operação de empréstimo, temos pelo menos duas partes envolvidas. Quem empresta, chamado credor; e quem pega emprestado, chamado devedor. Se você compra um apartamento via financiamento imobiliário, você é o devedor, e o banco, o credor. Isso é uma operação de renda fixa. Se você compra um CDB do banco, ele é o devedor, e você o credor, e isso também é uma operação de renda fixa.
O termo renda fixa faz sentido, mas é perigoso. Muitas pessoas acreditam que renda fixa significa que não há volatilidade nos preços, já que você sabe exatamente o quanto vai ganhar no futuro. Essa crença é totalmente equivocada. O preço de um título de renda fixa pode variar tanto quanto uma ação, dependendo do caso. E mesmo no vencimento do título, o quanto você vai ganhar de juros pode variar se for um título pós-fixado. Mas ainda assim, o nome faz sentido porque a taxa de juros que será paga pelo título é acordada entre as partes quando a operação é realizada.
Os principais ativos de renda fixa disponíveis no mercado financeiro para investidores em geral são: os títulos bancários (CDB, LCI, LCA, LF, entre outros), os títulos públicos federais (LTN, NTN-B, LFT, entre outros), os títulos de crédito privado corporativos (CRI, CRA, Debêntures, entre outros). Existem outros também, a própria poupança é um investimento de renda fixa. E mais, esses listados anteriormente são os títulos em si, mas também é possível investir em fundos de renda fixa, que são veículos que possuem uma equipe de gestão que define em que ativos alocar o seu dinheiro.
Independente do ativo escolhido, existem basicamente dois tipos de taxas de juros, que serão a remuneração financeira do empréstimo feito. As taxas de juros prefixadas são mais simples de entender, pois elas não dependem de mais nada, são um valor absoluto. Por exemplo, uma taxa prefixada de 10% ao ano vai render… 10% ao ano, simples assim. O outro tipo de taxa são as pós-fixadas, que estão sempre atreladas a um indexador. Em geral, o CDI ou o IPCA. Um título atrelado ao CDI em geral paga uma porcentagem dele, como por exemplo 115% do CDI. Se o CDI está em 13,65% ao ano, basta calcular 13,65*1,15 para obter o rendimento anual. Já os atrelados ao IPCA costumam pagar uma taxa IPCA mais uma taxa fixa, por exemplo, IPCA + 5% ao ano. Nesse caso, basta somar para obter o rendimento anual.
Perceba que enquanto a taxa prefixada é sempre o valor absoluto acordado, as taxas pós-fixadas vão variar de acordo com a variação de seus indexadores. Como não é possível saber o valor futuro do CDI ou do IPCA, os rendimentos dos títulos atrelados a eles também serão desconhecidos, de modo que só se saberá o rendimento exato no vencimento. Por isso são chamados pós-fixados. Por ser um tema muito extenso, continuaremos a falar de renda fixa nas próximas semanas, mas faltou responder uma pergunta, por que a renda fixa no Brasil é um bom investimento historicamente? Bom, não é uma resposta simples, mas em resumo é porque nosso país tem uma história de baixa responsabilidade fiscal por parte dos governos, o que faz com que eles gastem mais do que arrecadam, e por isso temos uma dívida grande e quase sempre crescente. Vendo esse cenário de incerteza, os investidores demandam uma taxa de juros alta para emprestar dinheiro para o governo brasileiro, para compensar um risco também alto. Como os juros dos títulos públicos servem como base para todo o mercado, e eles estão altos há décadas, investir na renda fixa paga bem no Brasil. Inclusive, para muitos períodos, o CDI ou o IPCA batem o resultado da bolsa de valores, o que é contraintuitivo, considerando o nível de risco da renda fixa e da renda variável.