É muito comum que tenhamos uma visão de que os países árabes são todos ricos por possuírem uma grande concentração de recursos naturais, sendo assim, um poço de ouro negro. Mas afinal, por que o Catar é um país tão rico?
O país é uma pequena península localizada no meio do Golfo Árabe, e seu território é menor que o estado de Sergipe. Mesmo assim, a pequena nação Árabe tem o 6º maior PIB per capita do mundo, segundo estimativa do FMI em 2022, o PIB per capita do Catar é de US$ 112 mil, 6,5 vezes mais do que a média do Brasil. Todo esse poder econômico permitiu que governo gastasse mais de US$ 200 bilhões em infraestrutura para poder ser sede da Copa de 2022.
Entretanto, a realidade nem sempre foi esta. Há um pouco mais de 50 anos, na década de 1970 o país se tornou independente do Reino Unido, até então o Catar era um dos países mais pobres do Golfo Árabe.
Tradicionalmente, o principal alicerce econômico da região era a extração de pérolas. Na década de 1940 houve a primeira descoberta de petróleo no campo de Dukhan. Foi nesse momento que a economia do país começou a mudar, ainda que lentamente devido aos desdobramentos da Segunda Guerra Mundial.
Em 1960, ainda sob domínio inglês o país se tornou a primeira nação árabe a integrar a Opep, o cartel dos países produtores de petróleo.
Durante a década de 1970, as mudanças no país se aceleraram. Ainda em 70 foi descoberto o principal campo de gás natural do Catar, Campo Norte, que é até hoje um dos maiores campos de gás natural do mundo. Em 1971 o Catar se torna independente do Reino Unido, mas a produção de óleo ainda continuava nas mãos de empresas estrangeiras como a britânica Shell. Sendo independentes os catarianos começaram a nacionalizar o setor e em 77 a estatal Qatar Energy se tornou a principal do país.
Assim como outras nações Árabes, a maior parte da riqueza do Catar vem de duas fontes: petróleo e gás natural. Não à toa, o país tem a terceira maior reserva de gás natural do mundo, o equivalente a 13% de todas as reservas já encontradas. O país tem uma gigante reserva de gás natural, mas a produção de petróleo, apesar de muito grande para um país minúsculo, não é das maiores: são cerca de 600 mil barris por dia. A quantidade de petróleo já encontrada é de mais de 25 bilhões de barris —isso permite que o Catar mantenha a atual produção por mais 56 anos.
No entanto, essa riqueza é dividida por 2,5 milhões de pessoas, sendo que os catarianos são uma minoria de menos de 12% do total da população. Mais de 88% dos moradores do Catar são de outros países, são imigrantes majoritariamente do sul da Ásia e da África. O país depende da mão de obra barata para conseguir, por exemplo, construir a infraestrutura da Copa. Além dos estádios, o Catar construiu um novo sistema de metrô e novas rodovias, todas essas construções foram aceleradas pela Copa sob um trabalho em condições decadentes o que levou a várias mortes e escândalos antes de se iniciar o torneio.
Vale lembrar que o Catar não é uma democracia. As decisões são tomadas pela dinastia Al Thani e seus conselheiros. Os cidadãos não têm influência significativa nos rumos do país. Apesar disso, eles recebem alguns benefícios derivados das riquezas naturais. O governo distribui incentivos para contar com a lealdade e apoio dos catarianos. Alguns dos benefícios que os cidadãos do Catar têm: isenção de imposto de renda; altos salários no setor público; sistema de saúde e educação superior gratuitos; apoio financeiro para quem se casa; auxílio moradia; subsídios para a conta de energia, além de planos para aposentadoria.
A economia depende fortemente da venda de petróleo e gás natural, ainda que haja um plano em ação para diversificar as fontes de receita e a Copa faz parte disso. O plano para diversificar o PIB não é uma novidade: há uma grande empresa aérea, Qatar Airways, e uma grande rede de jornalismo internacional no país, a al Jazeera. Indústria, construção e serviços financeiros também têm crescido consistentemente no país. Hoje a produção de óleo e gás representa cerca de metade do PIB. Diante das contradições e muitas ressalvas podemos notar que o Catar apesar de ter o 6º maior PIB per capita do mundo, além de muito dinheiro advindo de grades reservas de gás e petróleo, consequência de uma dependência energética mundial, o país não escapa de uma forte desigualdade socioeconômica.