Uma semana após o primeiro fato relevante de Americanas S.A. (se não sabe direito o que ocorreu, leia nosso artigo da semana passada clicando aqui), a situação da companhia continua preocupante, inclusive tendo se complicado nesses últimos dias. Apesar de a empresa ter conseguido uma decisão judicial que impede o bloqueio de bens por 30 dias, os bancos credores têm dificultado o acesso aos recursos neles depositados e o BTG Pactual conseguiu o bloqueio temporário de R$ 1,2 bilhão. A Americanas divulgou hoje que o caixa disponível da empresa beira os R$ 800 milhões e que pode entrar com pedido de recuperação judicial. A ação acumula desvalorização de quase 90% desde o início da crise e debêntures hoje negociaram com queda dos mesmos 90%.
A Americanas pediu e conseguiu na Justiça, ainda na semana passada, por juiz da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, tutela cautelar para suspender vencimentos antecipados e efeitos de inadimplência da companhia. Depois, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) deu 30 dias corridos para a Americanas entrar com pedido de recuperação judicial. Esse pedido aconteceu porque as inconsistências contábeis na ordem de R$ 20 bilhões podem levar ao vencimento antecipado de R$ 40 bilhões em dívidas, valor muitas vezes maior do que a companhia tem em caixa.
Em resposta, o BTG Pactual conseguiu na Justiça ontem (18) o direito de bloquear R$ 1,2 bilhão da Americanas sob custódia do banco. A decisão, de um desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, é liminar e ainda pode ser revertida pelo colegiado do tribunal. A decisão prevê que o valor fique bloqueado até apreciação do mandado de segurança pedido pelo BTG. Na noite de ontem, a Americanas informou que o Bradesco reteve mais de R$ 450 milhões do caixa da companhia, o que, segunda a empresa, descumpre a decisão judicial favorável à varejista.
Em fato relevante divulgado hoje (19), a empresa divulgou que sua posição de caixa alcançou o valor de R$ 800 milhões, sendo que uma parte significativa estava indisponível da data de ontem (provavelmente os valores retidos que citamos). Com a tendência de bloqueios de recursos ganhando força, a recuperação judicial tornou-se inevitável, uma vez que a Americanas estava muito próxima de chegar no ponto em que não teria caixa para honrar seus compromissos imediatos e correria o risco de interrupção de suas operações.
No dia de hoje, as ações de AMER3 acumulavam queda de 24% até às 14h em relação à abertura de hoje, valendo R$ 1,30. A queda acumulada desde quinta-feira passada (12), primeiro dia após a divulgação das inconsistências contábeis, beira os 90%. Em movimento parecido, as debêntures da companhia (código LAMEA7) eram negociadas com um desconto de 87,5% em relação ao preço da curva hoje mais cedo. Já os bonds (títulos de dívida emitidos no exterior) eram negociados a cerca de US$ 0,11 nesta manhã, sendo que antes da crise eram negociados a US$ 0,70, queda de 84%.
Em resumo, pouco sabemos ainda sobre o que de fato causou os erros no balanço que iniciaram essa crise, porém as consequências estão aparecendo. Para o mercado, é um problema enorme para investidores pessoa física, mas também grandes fundos, que possuem posição relevante em ações ou títulos emitidos pela varejista. Além do prejuízo já sofrido, será um problema liquidar grandes posições (alguns fundos tem milhões de ações), pois além do preço, a liquidez está prejudicada. Já para quem está disposto a correr riscos, pode ser uma oportunidade de comprar ativos baratos, porém é sempre importante lembrar que uma queda de 90% no preço da ação, por maior que seja, pode ser apenas o início de uma derrocada muito maior, dependendo dos eventos que se sucederem. Por isso, muita cautela e posições limitadas, caso decida tentar a sorte. Esse texto foi publicado pelo blog CDI – Conselho dos Investidores.
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